FALA, Jacuí!

Publicado em 13/10/2016 - regiao - Fernando de Miranda Jorge

FALA, Jacuí!

Como se uma cidade falasse! E por que não? Uma cidade pode sim reclamar, cobrar, mostrar sua cara, agradecer. Quer ver como isto é possível? Ela fala assim como “Se meu apartamento falasse”, no delicioso filme do cinema mundial, premiado com seis Oscars. Filme com base de seriedade, sátiras políticas de mensagens com conteúdo dissimulado, visto como exemplo dessa seriedade, uma vez que satiriza a sociedade capitalista. Ou, “Se meu Fusca falasse”. Um pequeno carro com personalidade própria, desprezado por um dono mau caráter e proprietário de uma agência de automóveis de luxo e piloto de corridas. Mas um outro piloto, também de corridas, acolheu o Fusca e, em gratidão, o Fusca lhe dá diversas vitórias, pois que passou a correr sempre com ele. Veja, o Apartamento fala. O Fusca fala. E Jacuí vai falar! Fala, Jacuí, dos políticos e dos comprometidos administradores, sem corrupção e atentos colaboradores da comunidade de outrora. Fala, Jacuí, dos atuais políticos, donde recaem expectativas grandiosas e alvissareiras. Fala do seu passado, Jacuí, onde e quando moradores e vizinhos se assentavam às portas de suas casas e conversavam, riam, madrugadas adentro, sem medo. Eram felizes. Fala, Jacuí, das precárias iluminações públicas, das águas potáveis sem tratamento. Fala, Jacuí, dos professores de outrora, que foram educadores vocacionados, dedicados. O respeito à criança e à sua família era prioritário. Ah, que saudade do Grupo Escolar... Fala, Jacuí, da religiosidade de seu povo. Fala, Jacuí, dos seus filhos vencedores. Fala de seus jovens aprendizes de ofícios com seus pais, onde a ingenuidade, o respeito e a amizade imperavam. Fala, Jacuí, de seus filhos ausentes. Isso lhe embarga a voz? Então, fala de sua saudade... Fala, Jacuí, do seu clima privilegiado, hoje um pouco alterado. Da geada devastadora. Da brisa fresquinha às tardinhas e das madrugadas de frio cortante, geladas. Do seu ar puro e perfumado pelas flores das laranjeiras e jabuticabeiras. Fala, Jacuí, porque o seu passado deve ser preservado, divulgado. E sabe por quê? É velha, bicentenária e tem uma trajetória de lutas e conquistas a mostrar. Fala, Jacuí, dos bailes em casas de famílias, grande atração. Vestidos com a “roupinha de ver Deus”, como se dizia, de brilhantinas nos cabelos e sapatos engraxados, os jovens dançavam de rosto colado com as meninas, aproveitando a distração dos pais delas. É. Melhor ficar com o Jornalista Dídimo Paiva: “Oi Jacuí, cheguei de novo. Estou chegando todos os dias ao mundo de minha infância querida. Aí, meus olhos ‘descobrem’ um passado que está cada vez mais presente, vejo um tipo de gente que vai escasseando nestes tristes tempos modernos”. (12-07-1988). Fala, Jacuí!

Fernando de Miranda Jorge

Acadêmico Correspondente da APC

Jacuí/MG – E-mail: fmjor31@gmail.com