Publicado em 14/04/2020 - regiao - Da Redação
O falecimento do Monsenhor Hilário Pardini, 102 anos de
idade, ocorrido em São Sebastião do Paraíso, na segunda-feira, 13, teve
a mais dolorosa repercussão, chocando fundamente as sociedades de Guaxupé e de
São Sebastião do Paraíso.
A morte rouba da Terra um sacerdote que sempre soube
dignificar gerações pela correção em todos os atos de sua vida. Perdem as
sociedades, guaxupeana e paraisense, um valor de alto gabarito moral e intelectual
que nunca deixou de maneira humilde e sincera de honrar o meio em que viveu,
não só através de exemplos os mais dignificantes, ainda, pela sua conduta
ilibada e altamente equilibrada. Perde o Magistério Mineiro um professor de
Língua Portuguesa de excepcional qualidade. Até mesmo a Santa Igreja Católica
Apostólica Romana, essa majestade que domina um reino inteiro, deixa de contar
com um súdito de uma piedade inimitável e de uma fé viva e ardente. Perde os
fiéis católicos um verdadeiro pastor de almas; um pastor extremoso e bom que a
todos sempre teve uma palavra de carinho, de ânimo e de bondade e que sempre
soube, de forma simples e humilde levar a todos, sem ostentação ou alarde, o
muito do pouco de suas posses. Perdemos nós seus discípulos de ontem o mestre
amigo, sereno e dedicado que jamais deixou de nos assistir em todas as horas,
não só nos apontando os caminhos claros e abertos da vida como, ainda nos
ensinando a sermos o seu exemplo, úteis à sociedade, à pátria, à família e a
Santa Madre Igreja.
Monsenhor Hilário era destas criaturas excepcionais que
vivem para o bem. Sacerdote que aliava à sua formação virtudes que o
distinguiam como homem santo. Ele envolvia na sua simplicidade apostolar um
mundo de amigos, pois ninguém resistia à sua bondade.
Homem de Deus, vivendo para Deus, Monsenhor Hilário era
uma afirmação magnífica de padre e de cidadão, pois deu ao seu sacerdócio e à
sua vida aquele sentido que transcende de humanidade e a compreensão de que a
existência só é um grande bem para os que jornadeiam cheios de fé, à revelia
das decepções transitórias, olhando para frente e para o alto, confiante na
Espiritualidade Maior.
No altar, como ministro de Deus, na cátedra, como
professor de Língua Portuguesa dos mais capazes, no lar como amigo e homem
sensível aos problemas do mundo, Monsenhor Hilário deu a Guaxupé, desde o
início de seu sacerdócio, a mais destacada colaboração, pois serviu a cidade no
seu ministério como professor do Colégio São Luis de Gonsaga, como reitor do
Seminário São José e como pároco da Paróquia Nossa Senhora das Dores do
Guaxupé.
O sacerdócio
Monsenhor Hilário Pardini era natural de Guaranésia, MG,
nasceu em 6 de setembro de 1917, foi ordenado padre em 1942, pelo então bispo
da Diocese de Guaxupé, Dom Hugo Bressane de Araújo.
Recebeu o sacerdócio numa época de convulsões sociais, de
perigos e de perniciosas infiltrações por todos os cantos, de erros e de vícios
que foram, recentemente apontados de modo claro e preciso pelo episcopado
paulista; numa época em que asseverou o Santo Padre Pio XI “espíritos
superficiais falam num Deus nacional, numa religião nacional”.
Em 1946 foi nomeado reitor do Seminário São José, em
Guaxupé. Posteriormente foi nomeado pároco em Paraguaçu, MG, onde permaneceu
por seis anos.
Em 19 de março de 1960 ele, juntamente com o então bispo
diocesano, Dom Inácio João Dal Monte e o núncio apostólico no Brasil Dom
Armando Lombardi realizaram a cerimônia de sagração da atual Catedral de Nossa
Senhora das Dores.
No início da década de 1960 ele passou pelas provações do
Concílio Vaticano II, que impôs modificações de todas as sortes na vida de
Igreja Católica.
Em 1º de março de 1967 o então bispo da Diocese de
Guaxupé, Dom José de Almeida Batista Pereira, através de provisão, nomeia
Monsenhor Hilário como pároco da Paróquia de Nossa Senhora das Dores do
Guaxupé. Sua posse na Catedral de Nossa Senhora das Dores aconteceu no dia 18
daquele mês e ano, ocasião em que foi lavrada uma ata, a qual se encontra
acostada às fls. 70 do quinto livro do tombo daquela paróquia.
Ele era, acima de tudo, um grande entusiasta das festas
paroquiais e das procissões. Era ele o sacerdote provido de maior animação em
promover as comemorações da Semana Santa. Quando organizava as procissões,
simbolizando o calvário de Jesus Cristo, conclamava os fiéis a saírem às ruas e
participarem dos atos religiosos.
Dono de uma eloquência invejável, ele utilizava-se do
microfone e exaltava os fiéis na importância da fé e do evangelho cristão. Os
fiéis escutavam com fervor as suas pregações e davam verdadeira importância ao
legado e ao evangelho deixado pelo filho de Deus.
Até mesmo para dar maior ênfase nas procissões, Monsenhor
Hilário se utilizava de uma perua DKV, de propriedade da Rádio Clube de
Guaxupé, conduzida por Nabih Zaiat, adaptada com sistema de alto falantes, para
as pregações durante as procissões.
Ele permaneceu como pároco em Guaxupé até 1980, quando
foi transferido para a cidade de São Sebastião do Paraíso. Esta transferência
não teve a aprovação do povo guaxupeano, que se manifestou contrário à sua
remoção.
Antes de partir, ele fez publicar na imprensa local um
manifesto mencionando: “ao aceitar a minha transferência de Guaxupé para São
Sebastião do Paraíso, nada mais faço do que realizar velho compromisso para
comigo mesmo, de fazer sempre a vontade de Deus manifestada através dos sinais
humanos. Assim julgo estar agindo e por isso estou tranquilo, embora o coração
esteja gritando outras razões e outros sentimentos...”
Desta forma, em 24 de junho de 1980 ele assume a Paróquia
de São Sebastião.
Com o correr dos anos, e já com a idade avançada, teve
que aposentar, porém continuou colaborando na Pastoral da Saúde, onde prestou
relevantes serviços espirituais.
Em 19 de março de 2010, a convite da então vice-prefeita
de Guaxupé, Márcia Zampar Jorge, Monsenhor Hilário presidiu as celebrações do
cinquentenário de sagração da Catedral de Guaxupé. Foi um momento emocionante,
oportunidade em que ele apresentou os detalhes da construção daquele templo.
Terminadas as celebrações, ele participou de um coquetel servido na residência
da advogada Márcia Zampar, oportunidade em que recebeu carinhosamente os
membros da imprensa.
Após completar o seu centenário de vida, seu estado de
saúde veio se complicando. Embora permanecendo extremamente lúcido, foi
arrastado ao leito, até que faleceu no último dia 13.
As homenagens
Rendemos à memória de Monsenhor Hilário Pardini as nossas
homenagens de estima e de respeito. Estamos convictos de que o seu sacerdócio
foi uma confirmação de sua vocação, arrebatando almas para o Céu, intrépido na
fé e no apostolado.
Esta deve ser aquela hora hora de nos calarmos, para que
através do nosso silêncio, ouvíssemos somente o pulsar dolorido de nossos
corações. Entretanto não seria justo, caro Monsenhor, que na hora em que pagas
o seu tributo à morte e no instante em que a terra generosa de São Sebastião do
Paraíso se abre para receber o seu corpo inanimado, os seus discípulos de ontem
se silenciassem e não lhe rendessem, nesta hora extrema, a nossa homenagem de
estima e de saudade.
Aqui trazemos o nosso adeus. Não são os elogios
convencionalistas de após morte. São elas, as nossas palavras, a expressão
sincera de uma estima e admiração de anos, desde a década de 1960, quando no
velho Colégio São Luis de Gonsaga ministrava-nos as aulas de Língua Portuguesa.
A sua morte foi assim. Quando ontem, pela cidade toda
corria a dolorosa notícia de que já não pertencias a este mundo, partindo para
essa misteriosa romagem de onde ninguém volta mais, sentimos que a realidade nos
oprimia e que a ilusão se esfumou para sempre.
Entretanto, cumpria-se uma vontade superior. É que estava
cumprida também a sua missão. Resta-nos o consolo de que foste amigo, foste
sincero e foste bom.
Adeus Monsenhor Hilário, são as palavras sinceras de seus
ex-alunos do Colégio São Luis de Gonsaga.
Exéquias
Em virtude da pandemia do Corona vírus seu corpo pernoitou na Santa Casa de
Misericórdia de São Sebastião do Paraíso, não sendo permitida a visitação
pública. No dia seguinte, a partir das 9h00 , seu corpo foi conduzido em carro
aberto do Corpo de Bombeiro até o cemitério daquela cidade. Na entrada da
necrópole foi procedida uma benção, sendo o sepultamento realizado somente com
a presença dos familiares.