Conferência em Guaxupé debateu excessos e uso abusivo da internet pelos jovens

Publicado em 18/08/2018 - regiao - Da Redação

Conferência em Guaxupé debateu excessos e uso abusivo da internet pelos jovens

A Vara da Infância e Juventude da Comarca de Guaxupé promoveu na última quarta-feira, 15, a oitava Conferência dos Comissários da Infância e Juventude, dos Conselheiros Tutelares, CRAS, CREAS – CMC e Assistência Social. O evento aconteceu no salão do Tribunal do Júri do Fórum local e teve como tema “Jovem presente, mente ausente”.

Participaram do evento membros dos conselhos tutelares das cidades de Conceição Aparecida, Guaranésia, Guaxupé, Juruaia, Muzambinho Santa Rita de Caldas e São Pedro da União,

A Conferência foi organizada pelo coordenador do Comissariado de Menores da Comarca de Guaxupé, Luiz Antônio Ferreira, com a colaboração do escrivão da secretaria da Vara da Infância e Juventude, Paulo César Elias, e sob a supervisão do juiz titular da mencionada Vara de Justiça, Milton Biagione Furquim.

O evento foi aberto pelo escrivão Paulo César, tendo este ressaltado que a condução de crianças e adolescentes demanda experiência e preparo, inclusive para acompanhar as e modificações e evoluções da sociedade, facilitando a abertura de caminhos e propostas de soluções para solucionar os problemas dos menores.

Durante o evento cinco palestrantes fizeram uso da palavra para discorrer sobre temas diferentes. O primeiro a se pronunciar foi o promotor de justiça recém empossado na Comarca e Curador de Menores, Ali Mahmoud Fayez Ayoub, seguido do secretário municipal de Assistência Socil, Claudinei Vitor; dos defensores públicos Felipe Moreira Favila e Letícia de Lima Freitas; pelo juiz da Comarca de Muzambinho, Flávio Schimidt; Professor José Dimas de Souza e pelo juiz da Milton Furquim.

Homenagem a Carlos Reimar dos Santos

Durante o evento foi prestada uma homenagem à memória de Carlos Reimar dos Santos, funcionário terceirizado que prestou relevantes serviços à Justiça e aos magistrados.

 Naquela ocasião estiveram duas irmãs dele, Eliana e Andréia dos Santos, tendo o escrivão Paulo Elias lido uma extensa biografia do homenageado com os feitos do mesmo.

Após cada palestra foram realizados sorteios de livros de natureza jurídica aos participantes.

No encerramento do evento foram entregues certificados de participação aos presentes.   

Promotor Ali Ayoub

Até mesmo pelo fato de ter assumido recentemente na Comarca, o promotor Ali Ayoub fez uma breve apresentação de sua atuação no Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Falou da importância da realização da Conferência na orientação da condução e na educação das crianças e adolescentes.

Segundo o representante do Ministério Público, o mau uso de computadores e de aparelhos de telefones celulares está distanciando os filhos dos pais. Para ele o uso indiscriminado da tecnologia está afetando e reduzindo o contato entre as pessoas, principalmente entre os membros das famílias. Ele defende que as pessoas precisam “se policiar” em relação ao tempo que ficam nas redes sociais; que a maioria das informações constantes nestes aplicativos não interessa a ninguém e, principalmente, aos jovens. 

O promotor considera uma verdadeira “doença” o uso indiscriminado de telefones celulares; uma “pobreza espiritual” as pessoas ficarem divulgando informações e imagens do que estão fazendo, de onde estão se divertindo e até mesmo do que estão comendo.

Ele também menciona que o uso indevido de celulares faz com que a criança se torne um “alienado mental”.

De forma categórica, o promotor Ayoub declara que a “educação” deve vir de casa, cabendo às escolas a missão de instruir, porém, para isto, é preciso que as famílias se estruturem melhor e que as instituições de ensino adotem medidas mais rígidas.

Concluindo, ele alerta que não existe uma fórmula “mágica” na educação dos filhos, que cada caso é um caso, porém os pais precisam limitar o tempo dos filhos à frente do computador, fazendo com que os mesmos desliguem os celulares durante as refeições e durante as reuniões familiares.

Claudinei Vitor

O  secretário municipal de Ação Social, Claudinei Vitor defendeu uma integração entre os poderes Executivo e Judiciário com o chamado “terceiro setor” adotando medidas para integrar os menores no projeto do primeiro emprego ou do menor aprendiz.

DEFENSORIA

Segundo o Defensor Público Felipe Moreira, os problemas envolvendo comportamento de menores, quando chegam até a Defensoria Pública, já estão num estado mais grave, seja na seara Cível ou Criminal, nos chamados atos infracionais. Que na maioria das vezes estes casos ocorrem em famílias de baixa renda.

Que o mundo virtual está se sobrepondo ao natural, banalizando a convivência familiar; tendo em vista que as crianças não aceitam ficar sem as novidades tecnológicas. Desta forma, a mente das crianças acaba ficando “ausente”, embora estejam fisicamente presentes.

O defensor público sugeriu que os membros dos conselhos procurem realizar cursos para se orientarem sobre “psicologia” para um melhor entendimento do fato que está ocorrendo no caso específico.

PALAVRA PÚBLICA

Aberta a palavra ao público, um membro do Conselho Tutelar de Juruaia, questionou a respeito do aumento de jovens entre 12 e 16 anos de idade que estão se envolvendo com drogas. Respondendo, Felipe declarou que em Guaxupé foi criada uma rede multidisciplinar para tentar melhorar o atendimento a estes menores; que menores infratores podem ser apenados com a prestação de serviços à comunidade.

Outra conselheira questionou que dificilmente uma repartição pública aceitará um menor infrator prestando serviços, até mesmo por temor. Respondendo Felipe alegou que realmente é um problema sério, porém é preciso tentar recuperar o infrator.

Flávio Schmidt

O juiz da Comarca de Muzambinho, Flávio Umberto Moura Schmidt, recentemente foi empossado na quarta região da Coordenadoria da Infância e Juventude, do TJMG, Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, com atuação em dezenas de comarcas do Estado de Minas Gerais.   

Em seu pronunciamento, falou a respeito de diversos problemas que envolvem principalmente as crianças, o abandono dos filhos pelos pais que precisam trabalhar. Segundo o magistrado, em determinados casos, os pais, ausentam dos lares durante todo o período diurno para trabalharem, ficando os filhos sem assistência ou sob os cuidados de irmãos com idade pouco superior. Muitas vezes estas crianças vão para as escolas em jejum e têm que aguardar até as 9h, quando recebem uma merenda, que se consistem em uma bolacha ou uma sopa confeccionada com restos de alimentos.

Esta ausência dos pais acaba criando uma “ferida” na personalidade destes menores. Desta forma, estas crianças acabam sendo ultrajadas por não terem uma formação ´psicológica e até mesmo por não terem recursos financeiros para adquirem “até um par de tênis”. Nestas circunstâncias acabam sendo absorvidos pelos traficantes que os recompensam com valores suficientes para o suprimento de necessidades básicas.

José Dimas de Souza

Falou da época em que estamos vivendo e da relação dos jovens no mundo virtual, negando as verdades do mundo físico.

Fez um breve relato das relações sociais ao longo das últimas décadas, com as ditaduras e os regimes de exceção e a queda da URSS, União das Repúblicas Sociais Soviéticas e suas consequências no mundo moderno.

As implicações da internet na sociedade e na vida das pessoas e, principalmente, dos jovens. A tecnologia “alicia” uma nova estrutura de comunicação, com o jovem sobrepondo-se para o novo, sem identificação e sem comprometimento num vazio, numa verdadeira inércia no exercício do nada.

Milton Furquim

Encerrando o evento o juiz Milton Furquim falou das dificuldades que existe em relação aos menores infratores.

Disse que atualmente existe uma inversão de valores que impera em muitas famílias, na sociedade e nas escolas Com sua experiência de 10 anos de professor secundário, 10 de diretor e mais de 20 de juiz de Direito ele fundamenta que as famílias estão terceirizando a educação dos filhos com a alegação de que não estão dando conta de educa-los. Assim, os pais terceirizam para as escolas, instituições, igrejas, promotores de justiça e juízes a obrigação de educar.

Outra fundamentação do magistrado é de que no Brasil não existe uma política voltada para a educação com algo produtivo. Segundo ele, os países mais desenvolvidos do mundo são conservadores no trato com as crianças, enquanto que no Brasil é exatamente o contrário.

Assim, os menores se sentem senhores de si e fazem o que querem porque a legislação vigente é covarde, ineficaz e ineficiente. O menor só não pode trabalhar, pode matar, roubar, furtar estuprar, além de outras infrações penais.

Finalizando disse que esta é uma situação frustrante e revoltante, principalmente para os juízes da Infância e Juventude que têm a “caneta na mão” que pode condenar o menor infrator, porém a condenação não pode ser cumprida por falta de vagas em instituições especializadas.