Distrito de Cabo Verde é o berço do Protestantismo no Brasil

Publicado em 28/05/2017 - regiao - Da Redação

Distrito de Cabo Verde é o berço do Protestantismo no Brasil

O Distrito de São Bartolomeu de Minas, no município de Cabo Verde, foi fundado no século XVIII por Protestantes que sofriam com a intolerância religiosa na época. Foi na localidade que encontraram uma forma de exercer a fé. Hoje, Protestantes e Católicos convivem em harmonia, participando dos cultos com liberdade e respeito. A Igreja Presbiteriana Independente reúne as famílias toda semana e escolha pela religião faz parte da vida de pessoas de todas as idades. A igreja sempre cheia e os hinos executados são a prova da fé em Jesus Cristo.
Mas nem sempre foi assim! Entre os séculos XVI a IXX, Presbiterianos seguidores de Luthero e João Calvino, líderes religiosos protestantes, eram perseguidos, torturados, queimados e mortos pela Santa Inquisição. A resistência a esses religiosos chegou ao Brasil e ao Sul de Minas ao mesmo tempo em que os interesses pela Bíblia e pelo Protestantismo também cresciam.
Entre eles, estava o Promotor de Justiça Antônio de Pádua Dias (1891) e Francisco de Assis Dias. Entre 1873 e 1884, eles sofrem preconceito, mas ao mesmo tempo ganharam seguidores e apoiadores. Foi assim que um homem decidiu comprar terras em uma área rural a sete quilômetros de Cabo Verde. Um lugar onde os presbiterianos podiam morar e praticar a religião: o Distrito de São Bartolomeu.
O historiador Hamilton de Souza Filho explica que o Capitão Francisco Alves veio do Rio de Janeiro por motivos religiosos e comprou os sete alqueires de terra na região, fazendo a doação para a Igreja Presbiteriana na época. Justamente para que aqueles que fossem se convertendo tivessem um lugar para morar. Nascido no distrito, o historiador realiza sua pesquisa, ouvindo histórias contadas de pais para filhos e registrados em poucos manuscritos. “O São Bartolomeu nasceu e cresceu sendo uma propriedade privada da Igreja Presbiteriana. Isso até 1982 quando o prefeito de Cabo Verde da época adquiriu da Igreja Presbiteriana para fazer a infraestrutura do bairro”, contou o historiador.
Livres para praticar a fé, os moradores se reuniam nas casas e nos sítios para fazer os cultos evangélicos. Até que dez anos depois, um morador muito influente na cidade decidiu construir o primeiro templo. Depois, o primeiro templo foi demolido, mas surgiram outros. A Igreja Presbiteriana Independente e a Igreja Presbiteriana Conservadora existem até hoje no distrito com o único objetivo de proclamar o Evangelho de Cristo.
Se no distrito todos viviam em harmonia, o mesmo não acontecia quando era preciso ir a Cabo Verde. Final do século IXX e os sete quilômetros que distanciam Cabo Verde de São Bartolomeu significavam uma separação e uma intolerância religiosa muito grande. Católicos e protestantes não podiam frequentar os mesmos lugares. Nem o cemitério de Cabo Verde podia ser usado. Por isso, foi preciso improvisar um cemitério no próprio distrito. O cemitério mudou de lugar décadas depois porque o terreno era muito pedregoso.
Assim, a história de formação do Distrito de São Bartolomeu se difere da dos outros municípios e povoados de Minas Gerais. Isto porque a maioria deles se formou em torno da Igreja Católica. Já no distrito, a Capela de São Bartolomeu foi construída somente quarenta anos depois da formação do bairro. Uma família fez a doação de um terreno de 2 mil metros quadrados que não fazia parte das terras do distrito, sendo que a capela foi construída no final da década de 1930.
Mas uma dúvida ainda não foi desfeita no distrito envolvendo o nome católico “São Bartolomeu”. Muitos acreditam que ele faça referência à noite de São Bartolomeu na França, um episódio de assassinatos em repressão ao protestantismo no século XVI. Mas pode ser apenas uma grande coincidência. Uma das coincidência é que no dia 15 de agosto do início do século XX, aconteceu um vendaval que destruiu toda a comunidade, sendo justamente no dia da Padroeira da cidade de Cabo Verde.
A origem de Cabo Verde se dá quando o desbravador Veríssimo João de Carvalho chegou na região em 24 de agosto de 1762 que era Dia de São Bartolomeu. Então, desde o princípio, as famílias que habitavam a região tiveram o nome de São Bartolomeu como patrono.
Alguns moradores acham que o distrito deveria levar o nome de um dos fundadores, Antônio de Pádua Dias. Independente de nomes e escolhas, a história deixa a lição da tolerância religiosa.

(Fonte: G1 Sul de Minas)