Publicado em 01/03/2013 - regiao - Da Redação
A crise na agricultura, em especial na cafeicultura, vem gerando a inadimplência de produtores. Esta situação preocupante vem afetando também a região, que tem na cafeicultura a sua base econômica. Este tema mereceu debate durante o programa “Edição de Sábado” no dia 23/02, produzido pela equipe deste semanário e levado ao ar pela Rádio do Povo AM 1070.
Emidinho Madeira, produtor rural e suplente de deputado estadual pelo PT do B, relata que vive esta realidade desde a infância. Criado na zona rural, a cada ano observa que não existe ninguém estendendo a mão ao produtor rural. “Falta muita união entre a classe dos ruralistas”, reclamou. Destaca que apesar dos avanços tecnológicos do momento atual, é o homem do campo trabalha na produção de alimentos para toda a sociedade. Desta forma, entende que o governo deveria investir em pesquisas, gerando informações aos produtores. Lembra o preço da saca de café já esteve a mais de R$ 500,00 e hoje o valor é inferior a R$ 300,00.
Com grande atuação na área social em toda a região, Emidinho Madeira destacou o aspecto solidário do produtor rural. Segundo ele, o homem do campo é o primeiro a ser procurado e corresponde à expectativa. Por outro lado, o produtor pode recorrer somente a Deus nos problemas enfrentados. Criticou deputados que usam estes momentos apenas para a promoção pessoal através da mídia. Para a liderança, os deputados deveriam fazer uma mobilização e buscar uma solução que atenda ao produtor rural. “Uma política construtiva é agregar o povo e buscar a solução”, falou. Informou que já existe uma audiência agendada com o Presidente do Agronegócio no dia 12/03. Outra intenção é viabilizar um encontro como Ministro da Agricultura em Brasília ou com a presença do mesmo na região. Acrescentou que o Sul de Minas é a alavanca do país e hoje enfrenta dificuldades, sem contar com um mão estendida.
Emidinho Madeira ainda esclareceu que quem fez a retenção do café e está com suas contas atrasadas não agiu de má fé. Ou seja, confiou e demonstrou vontade de produzir mais e gerar mais empregos. Mas com os problemas enfrentados no momento, existe uma menor movimentação de dinheiro na economia. Também defendeu que o governador de Minas deveria investir no marketing do café do estado no mercado exterior. Por fim, investir em pesquisa e passar uma informação verdadeira aos produtores, prestando as orientações necessárias sobre retenção ou comercialização.
A liderança também sugeriu a elaboração de uma carta de reivindicações a ser entregue ao governo federal pedindo anistia, concessão de bônus ou parcelamento que favoreça o homem do campo.
PRONAF É UMA “BOLA DE NEVE” - O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Resende, Claudinei de Brito, confirmou a situação de dificuldade enfrentada pelos produtores rurais. Confirmou que, através de Emidinho Madeira, prefeitura de Nova Resende e deputado federal Odair Cunha (PT), foi agendada uma reunião com o Gerente de Agronegócio do Banco do Brasil, em Brasília/DF. O objetivo é debater um problema que afeta toda a região. Comentou que o preço da saca de café esteve a R$ 500,00 e hoje está sendo comercializada a R$ 290,00. Neste contexto, muitos produtores fizeram a retenção a R$ 430,00, sendo que hoje não suficiente para pagar o montante da dívida.
Claudinei informou que atualmente em Nova Resende existe em torno de R$ 43 milhões em financiamentos de PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, sendo mais de R$ 22 milhões em investimento e R$ 18 milhões de custeio. Acrescentou que a maior dificuldade do pronafista é a questão do financiamento. Isto porque o governo agilizou vários financiamentos e baixou juros para atender a agricultura familiar. Observa que antigamente a renda anual do produtor era inferior a R$ 50 mil e R$ 100 mil, sendo assim possível sua inclusão no PRONAF. Hoje, o agricultor que tem uma renda anual de até R$ 220 mil bruta, enquadra no financiamento do PRONAF, sendo agricultor familiar ou não. Com isso, o governo liberou milhões de reais. Hoje, existe PRONAF entre R$ 1 mil até R$ 80 mil. Para pagar o seu PRONAF, o produtor precisar retirar dinheiro com agiota, com juros altos, para cobrir a sua operação. Caso contrário, precisa vender café a um preço baixo.
A liderança rural observa que se governo federal não mudar a política do PRONAF, os produtores continuarão enfrentando dificuldades. Acredita que o pagamento do financiamento deverá ser baseado no investimento executado. Isto porque o custeio é um “bate-volta” em dois dias, sendo um dos principais problemas atuais do PRONAF. “Queremos que o PRONAF também seja parcelado, conforme o investimento”, falou. Caso contrário, o PRONAF se torna uma “bola de neve”, com o débito aumentando a cada ano.
PROBLEMAS TAMBÉM EM MUZAMBINHO - O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Muzambinho e presidente da Câmara de Vereadores, Cléber de Oliveira Marcon, revelou o número de produtores ligados ao PRONAF é muito grande no município. Também observou que o produtor é obrigado a vender a produção a um preço baixo para renovar o PRONAF e contar com o dinheiro novamente da conta em apenas dois dias. Acrescentou que o PRONAF é bom apenas no primeiro ano, pois depois o produtor fica apenas trocando a produção por dinheiro.
Cléber Marcon também observa que o produtor rural sustenta o Brasil e não tem o valor merecido. A exemplo de Emidinho Madeira, o sindicalista reclamou que a informação sobre o mercado de café chega primeiro às cooperativas e empresas de comercialização.
Os produtores de Muzambinho movimentam cerca de R$ 32 milhões através do PRONAF. Segundo Cléber Marcon, existem casos de inadimplência, até mesmo no Programa Nacional de Crédito Fundiário. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais, em parceria com outros sindicatos da região, procura orientar os produtores e fazer as reivindicações necessárias junto ao governo federal. Também criticou agentes políticos em todos os níveis que visam apenas o marketing e realmente não querem abraçar a causa do trabalhador ou produtor rural. “Estamos desamparados e a classe rural precisa se fortalecer”, disse.
Cléber e Claudinei também reclamaram que o produtor é obrigado a vender a produção, sem usar do mecanismo da CPR.
DESVIO PARA OUTRA FINALIDADE - Muito se comenta que o produtor faz o financiamento junto ao PRONAF e acaba desviando os recursos para outras áreas. Esta situação foi negada por Emidinho Madeira, explicando que todo investimento é acompanhado de um plano de trabalho e toda fiscalização. Acrescentou que o produtor que faz um projeto menor ou de baixa qualidade corre o sério risco de ser obrigado a pagar o financiamento dentro de poucas horas. Quando ocorre uma sobra, muitas vezes o produtor acaba sanando outro problema dentro da propriedade. “O produtor rural da nossa região é muito honesto”, garantiu.
Claudinei também confirmou que não existe desvio de finalidade para o recurso financiamento. Segundo ele, o problema é realmente a crise enfrentada, prejudicando a atividade do produtor. Acrescentou que o custo de produção de café atualmente é de R$ 350,00, sendo que o produtor está vendendo a R$ 290,00. “O produtor está pagando para trabalhar”, previu. Entende que a agricultura poderá acabar, principalmente nos municípios da região que não permitem o uso total da mecanização.
FALTA DE ALIMENTOS NO FUTURO - Indagado a respeito, Emidinho Madeira defendeu uma forma de armazenamento dos produtos a exemplo do que acontece nos Estados Unidos. Principalmente, capacitando os profissionais que fazem este armazenamento. Com isso, evitando perdas e desperdícios. Também criticou a classe política que não conhece o sofrimento da população.
HÁ SOLUÇÃO - Emidinho Madeira acredita que existe uma “luz ao fim do túnel”. Para ele, o governador de Minas deve ouviu e entender os problemas, ajudando o produtor a encontrar uma solução. Também defendeu uma maior participação das cooperativas através de cursos e orientações aos produtores. Por fim, citando o empenho do deputado federal Odair Cunha (PT), também reivindicou uma maior participação dos parlamentares. Mas ainda não deixou de conclamar a classe dos produtores para uma maior união e mobilização, reivindicando melhorias e preços de garantia.
Claudinei voltou a confirmar a possibilidade do “fim da roça”, caso não ocorra uma mobilização geral por parte de produtores, deputados e governos. Também acrescentou o risco do agricultor familiar deixar a zona rural e buscar a sua sobrevivência na cidade. Em Nova Resende, atualmente são mais de 3.500 propriedades rurais entre parceiros, meieiros, arrendatários, comodatários e proprietários.
Cléber foi outro que anunciou a possibilidade do “êxodo rural”. Reclamou também que o produtor esta a “ver navios” na área de assistência técnica. Segundo ele, a Emater não consegue atender a demanda. Portanto, uma orientação seria importante para a manutenção do trabalhador na zona rural, buscando também meios de produção para consumo próprio.
PIOR CRISE DE TODOS OS TEMPOS - Emidinho Madeira defende um preço mínimo de mercado como forma de garantia para a produção. Citou a crise atual na cafeicultura como a mais grave da história. Hoje, os armazéns estão cheios e com um produção neste ano estimada em 50 milhões de sacas. Além disso, a previsão para 2014 é de 70 milhões de sacas. Portanto, uma situação que irá aumentar a crise para o produtor. Reconheceu os problemas com a crise econômica mundial, mas entende que o governo deve “salvar o seu povo”. Por fim, novamente defendeu a união entre produtores e autoridades na busca de uma solução.
Claudinei lembrou a ocorrência de chuvas de granizo em Nova Resende nos anos de 2010 e 2012, acabando com as lavouras dos produtores. Porém, ninguém no município recebeu o seguro estabelecido no PRONAF. Portanto, um grande prejuízo para os produtores locais. Atualmente, o município colhe em torno de 400 mil sacas de café. Porém, com o prejuízo anual chega a quase R$ 80 mil. “O projeto produtor está praticamente escravizado pelo preço do café”, reclamou. Para ele, a crise financeira já atinge a população de Nova Resende. Ou seja, existe muita intenção de venda, mas sem compradores em diversos setores.
Cléber confirmou que a inadimplência e a crise no setor pode afetar a economia de Muzambinho. Para ele, sem uma reversão do quadro, poderá haver um retrocesso na movimentação financeira dentro do município. Também reclamou que muitos empresários, não ligados ao setor, acabam investindo na cafeicultura para outros fins e acabam prejudicando o verdadeiro produtor.