Na contramão da crise, comerciantes comemoram aumento nas vendas em Juruaia

Publicado em 11/04/2017 - regiao - Da Redação

Na contramão da crise, comerciantes comemoram aumento nas vendas em Juruaia

Cidade tem boa oferta de vagas de emprego e abre espaço para novos tipos de negócios. Empresários registram aumento de mais de 50% no faturamento.

Enquanto o Brasil vive um período de aumento no desemprego e queda no consumo, uma cidade do Sul de Minas parece ter passado bem pelos momentos críticos da economia nos últimos tempos. Os comerciantes de Juruaia (MG), 3º polo de lingerie do Brasil e responsável por 15% da produção nacional, comemoram a boa fase de vendas nos últimos nove meses. Alguns empresários chegam a registrar aumento de 50% no faturamento.

“Abrimos 2017 com um volume de vendas muito acima do esperado”. Essa foi a constatação da empresária Lúcia Iório, que está animada com o grande movimento na loja e passou otimista pela crise. “No ano passado, esperamos pela crise, já que o clima ruim estava em todo o país. Mas, pelo menos aqui em Juruaia, ela não chegou com tanta força. O final de 2016 foi excelente em vendas e o movimento seguiu com o outlet do mês de janeiro até hoje”.

Quem também teve bons resultados, mesmo durante os períodos mais tensos da crise, foi a gerente comercial Karina de Souza Gonçalves. O comércio dela na cidade registrou um crescimento de 56% em 2016 em relação ao ano anterior.

“Enquanto muita gente cortou os investimentos por medo da crise, decidimos apostar em lançamentos mais frequentes de peças novas e ampliar nossa oferta de produtos. A cliente que antes comprava R$ 800 em produtos passou a comprar R$ 2 mil, já que aqui ela começou a encontrar novos itens”.

Os bons resultados trouxeram a oportunidade de investir mais no negócio. Assim, o empreendimento cresceu e Karina trabalhou na expansão da loja, inaugurada no mês de março.

A explicação do bom desempenho de Juruaia, segundo a Associação Comercial e Industrial de Juruaia (Aciju), pode estar no tipo de produto que é o carro-chefe da cidade. “Lingeries podem ser consideradas um produto de primeira necessidade, que dificilmente deixa de ser comprado pelas mulheres”, conta José Antônio da Silva, gestor da Aciju.

Mais vendas, vagas de sobra

O Brasil bateu novo recorde de desemprego entre dezembro de 2016 e fevereiro de 2017 – 13,2% da população está desempregada, o que representa mais de 13,5 milhões de brasileiros, segundo dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Ao contrário da realidade de muitas cidades, o que não falta em Juruaia são vagas de emprego, segundo os empresários. “A impressão que tenho é que todos que moram em Juruaia já estão empregados. As pessoas começam a trabalhar ainda jovens e sempre conseguem trabalho por aqui no setor de moda íntima”, conta Fernanda Freitas Rezende, proprietária de uma confecção.

A opinião é confirmada pelo gestor da Associação Comercial “A Aciju notou junto aos comerciantes o quanto eles contrataram neste primeiro trimestre de 2017. Foram costureiras, auxiliares de produção, vendedores... Não faltam ofertas de trabalho no setor”.

Para alguns comerciantes, fica até difícil encontrar mão de obra, já que Juruaia tem pouco mais de 9 mil habitantes. “A cidade é pequena para suprir a demanda de funcionários nas confecções. Assim, vamos atrás de pessoas de cidades próximas como Guaxupé, Nova Rezende, Muzambinho”, avalia Fernanda. Para ela, o problema é mesmo de quantidade de pessoas e não de falta de qualificação. “Quando a pessoa não tem experiência, nós fazemos todo o treinamento”.

Novas oportunidades

A crise também foi responsável pelo crescimento de um setor que sempre contribui com as vendas das lingeries de Juruaia – o das sacoleiras. São elas que compram as peças das confecções da cidade e revendem a outras lojas ou vendem por conta própria diretamente às clientes.

Já faz 10 anos que a Marli Pontes Carlini organiza viagens de Sertãozinho, no interior de São Paulo, à Juruaia. Com ela, cerca de 20 mulheres viajam em busca das peças íntimas para revenda. As viagens são a cada 15 dias e a demanda não para de crescer. “Nos últimos meses, cresceu demais o número de mulheres que me procuram para as viagens. Muitas perderam o emprego, ou querem ajudar na renda de casa. É uma oportunidade de trabalho”.

Rogério Reis, dono de uma loja em Juruaia, recebe toda semana pessoas que compram os produtos em atacado para revenderem. “As sacoleiras buscam uma maneira de ganhar dinheiro e têm um papel fundamental no comércio de Juruaia. Muitos dos nossos produtos são vendidos a elas e não ao cliente final”.

Com uma empresa que aumentou o faturamento em cinco vezes nos últimos três anos, Rogério enxerga nestas mulheres a vontade de trabalhar e reagir diante da crise.

“A crise realmente existe no país. Mas nada está perdido. A questão é encontrar formas de trabalhar, não ter medo de investir e ser diferente. Em momentos de menos dinheiro, as pessoas podem até diminuir o valor das compras, mas nunca vão deixar a moda íntima de lado. É um produto que não para de vender”.

Felinju

A Felinju – Feira de Moda e Lingerie de Juruaia – chega em 2017 à sua 20ª edição. Entre 29 de abril e 1º de maio, o Centro de Eventos Expo Juruaia abre espaço a mais de 70 expositores e tem a expectativa de receber cerca de 30 mil visitantes. Organizada pela Associação Comercial e Industrial de Juruaia (Aciju), a feira registra um crescimento de 20% no volume de negócios por ano. Em 2016, foram mais de R$ 15 milhões em vendas.

A cidade do Sul de Minas, responsável por 15% da produção nacional de lingerie e 3º polo do setor, produz cerca de 20 milhões de peças por ano. Com 95% das empresas comandadas por mulheres, Juruaia é dona da maior renda per capita do Sul de Minas.

Por Fernanda Rodrigues, Juruaia, MG