UMA MULHER UM exemplo um legado

A nossa Jacuí ficou menor. O cinco de julho ficará marcado para os jacuienses como o dia em que perderam uma de suas conterrâneas admiráveis e queridas por toda sua gente. Este dia estava sombrio, triste e frio como nos olhares e dizeres expressados por todas as pessoas que conheceram e conviveram com Dircélia Ernesto Reis, 75. Mulher de todas as qualidades, aliás, que andam sumidas nos dias atuais e de tanta carência. Deselegante dizer, mas não existem mais. Ela mostrava, com discrição e altivez, a alguns, a arte de agradar; a todos, a arte de não desagradar. Viveu toda sua vida nesta cidade, para constituição de sua família, os amigos, as pessoas carentes, simples e humildes. Sabia das coisas e apreciava controlar o seu tempo para poder fazer de tudo um pouco. Bonita, inteligente e artista de primeira linhagem nas artes plásticas. As obras sacras de sua autoria, em óleo sobre tela, expressam o olhar misericordioso dos santos. Soube ser mulher esposa, filha, mãe além de seus filhos, avó, irmã, cunhada, nora, sogra e o que mais? Como educadora, contribuiu com a rede de ensino municipal na criação de um método inédito de alfabetização de crianças e adultos. Adotado pelas unidades de ensino locais e no Núcleo de Ensino Ouro Preto na cidade de São Paulo, após ter sido analisado e aprovado pelo Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais. Não se sabe quantos aprenderam a ler e a escrever com ela, mas com certeza, muitos e muitos a reconheciam “A DONA DIRCÉLIA”. Por isso, quando do lançamento da cartilha de alfabetização – Minhas Crianças (a do Palhaço Pipo) - falaram com ela: vamos ficar ricos, vamos editar os livros e distribuí-los em nível regional, estadual. E a resposta que não podia ser diferente, saiu rápida: vocês não estão entendendo nada. Não quero ganhar dinheiro. Quero que as pessoas aprendam ler e escrever, isto me basta! Eu a conheci e com ela convivi por mais de 50 anos, fui um privilegiado. Obrigado Dircélia por este tempo. Seu último pedido foi para que registrasse a seguinte frase: “Só consegui chegar neste patamar por estar sempre em pé em ombros fortes”.

Fernando de Miranda Jorge - Jacuí/MG / E-mail: fmjor31@gamil.com